A Articulação Semiárido Brasileiro - ASA Brasil realizou na últma terça-feira,16, e quarta-feira, 17, o ‘Seminário Técnico Científico sobre Saneamento Rural com Tecnologias Sociais de Reúso de Águas’.
Na programação de hoje, pela manhã, foram realizadas duas visitas a experiências de reúso de água, vivenciadas por famílias agricultoras, da região do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Seridó e Curimataú, território onde atua a entidade de assessoria sócio-organizativa Patac, que também faz parte da rede ASA.
As experiências fazem parte da pesquisa participativa que está sendo realizada em parceria com a WTT, a Universidade Federal Regional de Pernambuco - UFRPE e o Instituto Nacional do Semiárido – INSA.
As famílias agricultoras estão localizadas na comunidade quilombola, Santa Rosa, no município de Boa Vista – PB. O primeiro sistema visitado foi o da agricultora, Justina Maria Celestino Marques, esse sistema possui uma lagoa de polimento elevada, onde a água da louça e do banho passa por processo de filtragem da gordura, repousa três dias na lagoa, em exposição ao Sol, para, em seguida ir para irrigação de fruteiras e forrageiras. O segundo sistema foi o da agricultora, Eliane Santos da Silva, caracterizado por um filtro anaeróbio onde o trabalho de desinfecção é feito por bactérias, esse protótipo trabalha a filtragem da água de baixo para cima, esse modelo é adequado para uma família de até 10 pessoas.
A pesquisa busca analisar a eficiência das tecnologias para a purificação das águas cinzas, considerando o perfil socioeconômico das famílias participantes, o manejo adequado, o tempo de trabalho dedicado a limpeza dos filtros, o impacto do armazenamento dessa água para o Semiárido, a divisão sexual do trabalho doméstico no agroecossistema, tudo isso, com o objetivo maior de armazenar uma água que seria desperdiçada, torná-la adequada para a produção de alimentos, inclusive hortaliças, o que se torna uma estratégia de enfrentamento a fome. É importante observar que o aumento da investigação, através da implantação de mais sistemas, poderá trazer maiores resultados e incentivar a criação de uma política pública com baixo índice de contaminação.
Para a agricultora Eliane, o sistema de reuso tem mais avanços que desafios, no tocante ao armazenamento e no fortalecimento da produção de alimento humano e animal no quintal de casa. Ela considera que: “O reúso é bom porque antes dele, eu desperdiçava a água, agora, a água vai para as plantas, o que aumentou a produção no meu quintal”. Nesse ano de 2023, a família já conseguiu armazenar 25 mil litros de águas residuais, o que equivale a quase 50% do armazenamento realizado pela Cisterna Calçadão da propriedade, impactando diretamente o aumento da produção.
Em relação aos desafios, a pesquisa aponta: O abandono do sistema por falta de tempo para limpar os filtros, retorno da água para dentro de casa (entupimento), o tempo de vida do filtro que depende da limpeza e a sobrecarga de trabalho para as mulheres.
A visita foi encerrada com um debate sobre a importância dos sistemas de reúso testados na comunidade, a viabilidade de cada um para a realidade das famílias e de como a tecnologia mudou a realidade dos quintais no aspecto positivo de armazenamento da água que seria desperdiçada.
Os dois sistemas estão sendo monitorados há 8 meses e deverão rechear os dados para que as instituições cheguem a um protótipo que melhor se adéque a realidade do Semiárido brasileiro, o que implicará na construção de uma política pública de saneamento rural com o uso dessa tecnologia.
Por Simone Benevides/Patac
Fotos: Lívia Alcântara/ASA Brasil, Danilo Souza/IRPAA
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